A gaivota voa livre, sem se preocupar em deixar rasto… nem que seja o rasto ténuo como o deixado pela tinta espalhada no papel que correu a veia da caneta, que transpira o risco de, quem sabe um dia, ser lida…
A gaivota não quer deixar rasto…
Não me parece que é por medo do compromisso, mas por ódio à saudade! O rasto leva à lembrança e esta conduz à saudade!
Para a gaivota nunca é tarde… nunca é tarde para navegar, para caminhar, para olhar… simplesmente para olhar…
Para a gaivota a saudade é o futuro, o sonho é o ar que respira, olhar é sentir, navegar é o vento, o sol, a tempestade, a bonança, é a vida.
Para a gaivota ver os outros na azafama do dia-a-dia é a sua sesta, ver os outros a vegetar é o seu tormento, a sua dor de cabeça, a evasão de um espaço que é seu por direito.
As crianças divertem-se e a gaivota sorri, a ver os filhos dos outros, que nunca serão seus, mas para quem ela tem muito para dar e ensinar…
Quem me dera ser gaivota! Nunca é tarde…
Sugestão de leitura: Agora nunca é tarde de Pedro Barroso